O ódio brasileiro esta preste a crucificar o amor, guiado por interesse político

Certa noite durante uma aula da faculdade um professor nos apresentou a música de Raul Seixas chamada "Eu nasci a dez mil anos atrás", nos dizendo que tal música era uma mini aula de história, ficamos curiosos, e parte por parte ele foi nos "desvendando" a letra e ao final ficamos espantados como realmente a letra abordava, de forma simples, cada período da história.
Bem, vamos lá, o comportamento das pessoas nesses últimos dias, ou parte delas, me fez lembrar do fato narrado logo acima, mais especificamente a primeira frase da música referida onde diz "Eu vi Cristo ser crucificado.O amor nascer e ser assassinado", bacana né? uma pequena frase já nos remete a passagem histórica conhecida como paixão de Cristo.
Mas o que esta pequena frase diz sobre o atual momento? Muita coisa. Estamos presenciando uma crescente e, talvez, incontrolável onda de ódio que se espalha pelo país motivada, inicialmente, por questões politicas mal resolvidas ou ainda inaceitáveis por algumas pessoas. As rivalidades politicas que antes se limitavam ao período das eleições, agora, ganham amplitudes nacionais, impulsionadas por más administrações, sejam elas municipais, estaduais ou até mesmo federais. As insatisfações locais ou regionais com o poder público executivo se somaram com os resultados do pleito nacional, iniciando um sentimento de revolta e até mesmo raiva. Quando tais sentimentos encontram um terreno fértil e amplo, como a internet, basta que alguém aponte um caminho ou culpado, para se criar o ódio, a desconfiança, o preconceito, a intolerância, entre outros.
Em um ambiente tão hostil como o que vivemos atualmente qualquer um que se posicione diferentemente da maioria acaba se tornando um alvo, as pessoas desferem todo tipo de ofensas e ataques sem ao menos tentar compreender o porque da pessoa pensar daquela forma. O que acaba tornando-os fascistas sem saberem, pois, repelem qualquer tipo de pensamento pró-governo, progressistas ou de esquerda, este ultimo, é o mais combatido, pois, limitam esquerda a ideologias como socialismo e comunismo, ai partem para discussões e a ataques que não acabam mais. Mas acredito que o pior disto tudo são os oportunistas que souberam "domesticar" o ódio generalizado, para seus interesses, pessoas que até pouco tempo pouco se ouvia falar agora são admirados e, infelizmente em alguns casos, idolatrados, criando legiões de mentes vazias e manipuladas que podem ser capazes de qualquer coisa, basta seus "líderes" darem a ordem.
Diante deste cenário, fico pensando no caos que poderia se tornar nossa realidade se as pessoas carregassem armas consigo, como muitos desejam, pessoas carregadas de ódio tirando a vida de outras porque elas não pensam semelhante. Exagero? talvez, mas uma pessoa com uma arma na mão e ódio na mente pode cometer grandes tragédias, como já testemunhamos, pasmos, alguns casos recentes.
O que podemos fazer é esperar, torcer e esperar, que o amor que Cristo deixou para que fosse espalhado entre as pessoas não seja novamente assassinado, pois, aos poucos ele esta sendo crucificado, e o pior, por aqueles que dizem seguir seus ensinamentos.

Como diria Lulu Santos: "Eu vejo a vida melhor no futuro. Eu vejo a vida por cima de um muro, de hipocrisia..."

Obrigado pelo tempo que dedicou a esta leitura, espero que tenha gostado e que volte outras vezes :)
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Você sabe o que é o Foro de São Paulo?

Composto por partidos e movimentos de esquerda da América Latina e Caribe, como o PT, o fórum desperta o medo e a desinformação.




Foro de São Paulo, composto por partidos e movimentos de esquerda da América Latina e Caribe, como o PT, o fórum desperta o medo e a desinformação. Saiba qual é a origem dessa organização, quem são seus membros e o quais seus planos para o futuro.
O que é o Foro de São Paulo?
É uma organização que junta vários partidos e movimentos sociais populares e de esquerda da América Latina e do Caribe. Ele foi fundado em 1990 pelo PT do ex-presidente Lula e pelo Partido Comunista Cubano de Fidel Castro, entre outros.
O Foro é uma organização comunista?
Não. As organizações que fazem parte do Foro são, sim, de esquerda. E também é verdade que alguns partidos comunistas são membros, mas o Foro em si não pertence a nenhuma corrente específica. Ele se autodeclara como sendo de esquerda, anti-imperialista, socialista e democrático.
O que faz o Foro de São Paulo?
É um fórum de debates que discute as alternativas à visão neoliberal da economia e da política. Esses grupos e partidos de esquerda trocam experiências e conhecimento a respeito de como construir políticas sociais. Explico melhor: no final dos anos 80, com a queda da União Soviética, parecia que a esquerda estava destinada a acabar. Alguns até sugeriam que a visão neoliberal da sociedade – baseada na utopia de que o livre mercado seria capaz de promover crescimento econômico para todos – era o “fim da história”. O Foro surgiu justamente para oferecer um contraponto a essa visão.
Ouvi dizer que o objetivo do Foro é implementar o comunismo na América Latina e que já está fazendo isso em vários lugares, como na Bolívia e na Venezuela. É verdade?
Não. Como já dissemos, o Foro de São Paulo apenas reúne seus participantes de dois em dois anos para discutir questões que sejam pertinentes aos seus membros. E em vários países há governantes de partidos integrantes do Foro sem que isso tenha significado o fim da democracia. No Chile, por exemplo, onde Michelle Bachelet, socialista, governou por um mandato para dar lugar a um presidente conservador em seguida (Sebastián Piñera, do Renovação Nacional).
Que países são governados por políticos que fazem parte do Foro?
Vários países da América Latina e do Caribe. Os principais são Brasil, Uruguai (Pepe Mujica), Argentina (Cristina Kirchner), Bolívia (Evo Morales), Chile (Michelle Bachelet), Peru (Ollanta Humala) e Equador (Rafael Correa) e outros.
É verdade que as FARC fazem parte do Foro de São Paulo?
Não. As FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, grupo guerrilheiro) tentaram participar de duas reuniões em 2004 e 2008, mas não conseguiram porque foram impedidos e não fazem parte do grupo. Em 2008 inclusive quem barrou a presença das Farc foi o PT, que ocupava a secretaria-executiva da entidade.
Dizem que o Foro era secreto até 1997. Verdade?
O Foro nunca foi secreto. Talvez ele fosse desconhecido porque a esquerda latino-americana começou a crescer no final dos anos 90, mas, pelo menos desde 1995 os jornais brasileiros sabiam da existência do grupo e noticiavam seus encontros, mesmo que fosse de maneira discreta. 
Fonte: Carta Capital

Ramonet: viagem a uma nova Bolívia

Para o viajante que volta à Bolívia depois de alguns anos de ausência, e que caminha lentamente pelas ruas estreitas de La Paz – cidade marcada por ravinas escarpadas a quase quatro mil metros de altitude – as transformações saltam aos olhos: não se veem mais pedintes, nem vendedores informais que lotavam as calçadas. As pessoas se vestem melhor, têm um ar mais saudável. E a capital tem uma aparência mais bem tratada, mais limpa, com muitos espaços verdes. Ressalta também o surgimento de novas construções. Despontaram duas dezenas de grandes imóveis e multiplicaram-se os centros comerciais; um deles tem o maior complexo de cinemas (18 salas) da América do Sul.
Mas o mais espetacular são os teleféricos urbanos, de extraordinária tecnologia futurista [1], que mantêm, acima da cidade, um balé permanente de cabines coloridas, elegantes e etéreas como bolhas de sabão. Silenciosas e não poluentes. Duas linhas estão funcionando agora, a vermelha e a amarela; uma terceira, a verde, será inaugurada nas próximas semanas, permitindo assim a criação de uma rede interligada de transporte a cabo de 11 km, a maior do mundo. Isso possibilitará a dezenas de milhares de moradores de La Paz economizar em média duas horas de viagem por dia.
 A Bolívia muda. Evo cumpre suas promessas”, afirmam cartazes nas ruas. E pode-se constatar que o país é de fato outro. Muito diferente daquele que conheci há apenas uma década, quando foi considerado “o Estado mais pobre da América Latina depois do Haiti.” Corruptos e autoritários em sua maioria, seus governos passavam os anos a implorar empréstimos aos organismos financeiros internacionais, às principais potências ocidentais ou às organizações humanitárias. Enquanto isso, as grandes mineradoras estrangeiras pilhavam o subsolo, pagando ao Estado royalties de miséria e prolongando a espoliação colonial.
Relativamente pouco povoada (cerca de dez milhões de habitantes), a Bolívia tem superfície de mais de um milhão de quilômetros quadrados (duas Franças, ou Bahia e Minas Gerais somadas). Suas entranhas transbordam de riquezas: prata (faz lembrar Potosí …), ouro, estanho, ferro, cobre, zinco, tungstênio, manganês etc. O sal de Uyuni tem as maiores reservas no mundo de potássio e lítio – considerado a energia do futuro. Mas hoje, a principal fonte de renda é constituída pelo setor de hidrocarbonetos: gás natural (a segunda maior reserva da América do Sul), e petróleo (em menor quantidade, por volta de 16 milhões de barris ao ano).
No decorrer dos últimos nove anos, após a chegada de Evo Morales ao poder, o crescimento econômico da Bolívia foi sensacional, com uma taxa média anual de 5%. Em 2013, o avanço do PIB atingiu 6,8% [2]; em 2014 e 2015, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), será igualmente superior a 5%… É o percentual mais elevado da América Latina [3]. E tudo isso com uma inflação moderada e controlada, inferior a 6%.
Assim, o nível material de vida dobrou [4]. As contas públicas, embora com importantes investimentos sociais, são igualmente controladas, a tal ponto que a balança comercial oferece resultado positivo com excedente orçamentário de 2,6% (em 2014) [5]. Embora as exportações, principalmente de hidrocarburetos e de produtos de mineração, desempenhem papel importante nessa prosperidade econômica, é a demanda interna (+5,4%) que constitui o principal motor do crescimento. Finalmente, outro sucesso sem precedentes da gestão do ministro da economia, Luis Arce: as reservas monetárias internacionais da Bolívia agora equivalem a 47% do PIB [6], colocando pela primeira vez o país em primeiro lugar na América Latina, bem à frente de Brasil, México e Argentina. Evo Morales indicou que a Bolívia pode deixar de ser um país endividado em nível estrutural para tornar-se um país credor. Ele revelou que “quatro Estados da região”, sem especificar quais, já solicitaram crédito ao governo …
Num país onde mais de metade da população é de origem indígena, Evo Morales, eleito em janeiro de 2006, é o primeiro índio a tornar-se presidente no decorrer dos últimos cinco séculos. E, depois que assumiu o poder, esse presidente diverso rejeitou o “modelo neoliberal” e substituiu-o por um novo “modelo econômico social comunitário produtivo”. A partir de maio de 2006, nacionalizou os setores estratégicos (hidrocarburetos, indústria de mineração, eletricidade, recursos ambientais) geradores de excedentes, e investiu parte desse excedente nos setores geradores de emprego: indústria, produtos manufaturados, artesanato, transporte, agricultura e pecuária, habitação, comércio etc. Consagrou a outra parte do excedente à redução da pobreza por meio de políticas sociais (educação, saúde), aumentos salariais (para funcionários e trabalhadores do setor público), estímulos à integração (os bônus Juancito Pinto [7], a pensão “dignidade” [8], os bônus Juana Azurduy [9]) e subsídios.
Os resultados da aplicação desse modelo não se refletem apenas nas cifras acima, mas também num dado bem explícito: mais de um milhão de bolivianos (10% da população, portanto) saíram da pobreza. A dívida pública, que representava 80% do PIB, diminui e mal chega a 33%. A taxa de desemprego (3,2%) é a mais baixa da América Latina, a tal ponto que milhares de imigrantes bolivianos na Espanha, Argentina e Chile começam a voltar, atraídos pelo pleno emprego e notável aumento do padrão de vida.
Além disso, Evo Morales começou a tornar verdadeiro um Estado que até o presente não era senão virtual. É claro que a vasta e torturada geografia da Bolívia (um terço de altas montanhas andinas, dois terços de planícies tropicais e da Amazônia), assim como a divisão cultural (36 nações etnolinguísticas) nunca facilitaram a integração e a unificação. Mas o que não foi feito em quase dois séculos, o presidente Morales está determinado a colocar em prática, para dar fim ao desmembramento. Isso passa, antes de tudo, pela promulgação de uma nova Constituição, aprovada por referendo, que estabelece pela primeira vez um “Estado plurinacional” e reconhece os direitos de nações diversas que coabitam o território boliviano. Em seguida, passa pelo lançamento de uma série de ambiciosas obras públicas (estradas, pontes, túneis) com o objetivo de conectar, articular, servir áreas dispersas para que seus habitantes sintam que fazem parte de um mesmo conjunto: a Bolívia. Isso nunca havia sido feito. É a razão por que o país teve tantas tentativas de divisão, separatismo e fracionamento.
Hoje, com todos esses êxitos, os bolivianos sentem-se – talvez pela primeira vez – orgulhosos de si. Estão orgulhosos de sua cultura indígena e de suas línguas nativas. Estão orgulhosos de sua moeda, que a cada dia ganha um pouco mais de valor em relação ao dólar. Estão orgulhosos de ter o mais elevado crescimento econômico e as reservas monetárias mais importantes da América Latina. Orgulhosos de suas realizações tecnológicas como a rede de teleféricos de última geração, de seu satélite de telecomunicações Tupac Katari, de sua cadeia de televisão pública Bolivia TV [10]. Essa cadeia, dirigida por Gustavo Portocarrero, deu em 12 de outubro, dia das eleições presidenciais, uma demonstração notória de sua excelência tecnológica ao conectar-se diretamente – durante 24 horas ininterruptas – com seus enviados especiais em cerca de 40 cidades do mundo (Japão, China, Rússia, Índia, Egito, Irã, Espanha etc.), onde bolivianos que vivem no exterior votaram pela primeira vez. Proeza técnica e humana que poucos canais de TV do mundo seriam capazes de conseguir.
Todas essas realizações – econômicas, sociais, tecnológicas – só explicam em parte a vitória esmagadora de Evo Morales e de seu partido (o Movimiento al Socialismo, MAS) nas eleições de 12 de outubro último [11]. Ícone da luta dos povos indígenas e autóctones de todo o mundo, graças a este novo triunfo, Evo conseguiu romper preconceitos importantes. Ele prova que a permanência no governo não causa, necessariamente, desgastes; e que, depois de nove anos no poder, é possível conseguir uma reeleição esmagadora. Prova também que, ao contrário do que afirmam os racistas e colonialistas, “os índios” sabem como governar e podem ser os melhores líderes que o país já teve. Prova que, sem corrupção, com honestidade e eficácia, o Estado poder ser um excelente administrador, e não uma calamidade sistemática, como pretendem os neoliberais. Finalmente, Evo prova que a esquerda no poder pode ser eficaz; que pode gerir políticas de integração e redistribuição de riquezas sem pôr em perigo a estabilidade da economia.
Mas essa grande vitória eleitoral explica-se também, e talvez sobretudo, por razões políticas. O presidente Evo Morales logrou vencer, ideologicamente, seus principais adversários, agrupados no seio da casta de empresários da província de Santa Cruz, principal motor econômico do país. Esse grupo conservador, que tentou tudo contra o presidente – desde o ensaio de divisão do país até o golpe de Estado –, acabou finalmente por submeter-se e render-se ao projeto presidencial, reconhecendo que o país está em plena fase de desenvolvimento.
É uma vitória considerável, que o vice-presidente Álvaro García Linera explica nestes termos: “Conseguimos integrar o leste da Bolívia e unificar o país, graças à derrota política e ideológica de um núcleo político de empresários ultraconservadores, racistas e fascistas, que conspiraram para dar um golpe de Estado e financiaram grupos armados para organizar uma divisão do território oriental. Além disso, esses nove anos têm mostrado às classes médias urbanas e aos setores populares de Santa Cruz, que estavam cautelosos, que temos melhorado suas condições de vida, que respeitamos o que foi construído em Santa Cruz e suas especificidades. Somos evidentemente um governo socialista, de esquerda, e dirigido por indígenas. Mas desejamos melhorar a vida de todos. Enfrentamos as empresas petrolíferas estrangeiras, da mesma forma que as empresas de energia elétrica, e as fizemos dar sua contribuição para depois, com esses recursos, dar poder ao país, principalmente aos mais pobres – mas sem afetar as posses das classes médias ou do setor empresarial. Esta é a razão por que foi possível um reencontro com o governo de Santa Cruz, e tão frutífero. Nós não mudamos de atitude, seguimos dizendo e fazendo as mesmas coisas que há nove anos. Eles é que mudaram de atitude diante de nós. Desde então, começa esta nova etapa do processo revolucionário boliviano, que é a da irradiação territorial e da hegemonia ideológica e política. Eles começam a compreender que não somos seus inimigos, que é do interesse deles praticar a economia sem entrar na política. Mas se, como empresários, tentarem ocupar as estruturas do Estado e quiserem combinar política e economia, eles não conseguirão. Da mesma forma, não pode ser que um militar assuma também o controle civil, político, uma vez que eles já têm o controle das armas.”
Em seu gabinete do Palacio Quemado (palácio presidencial) o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, explica isso em uma frase: “Vencer e integrar”. “Não se trata – diz ele – de derrotar o adversário e abandoná-lo à sua sorte, correndo o risco de que comece a conspirar com o ressentimento do derrotado e embarque em novas tentativas de golpe. Uma vez vencido, é preciso incorporá-lo, dar-lhe oportunidade de juntar-se ao projeto nacional em que todos estão envolvidos, sob a condição de que admitam e se submetam ao fato de que a direção política, pela decisão democrática das urnas, é exercida por Evo e o MAS.”
E agora? O que fazer com uma vitória assim esmagadora? “Temos um programa [12] – afirma tranquilamente Juan Ramón Quintana – queremos erradicar a pobreza, dar acesso universal aos serviços públicos básicos, garantir uma saúde e uma educação de qualidade para todos, desenvolver a ciência, a tecnologia e a economia do conhecimento, estabelecer uma administração econômica responsável, ter uma gestão pública transparente e eficaz, diversificar nossa produção, industrializar o país, alcançar a soberania alimentar e agrícola, respeitar a mãe Terra, avançar em direção a uma maior integração latino-americana e com nosso parceiros do Sul, integrar-nos ao Mercosul e alcançar nosso objetivo histórico, fechar nossa ferida aberta: recuperar nossa soberania marítima e o acesso ao mar [13].”
Por sua vez, Evo Morales exprimiu seu desejo de ver a Bolívia tornar-se o “coração energético da América do Sul”, graças ao enorme potencial em matéria de energias renováveis (hidroelétrica, eólica, solar, geotérmica, biomassa), ao invés dos hidrocarbonetos (petróleo e gás). Isso, com o complemento da energia atômica civil produzida por uma central nuclear cuja aquisição está próxima.
A Bolívia muda. Avança. E sua metamorfose prodigiosa ainda não acabou de surpreender o mundo.
Ignácio Ramonet é jornalista, editor do Le Monde Diplomatique, edição espanhola, e presidente da rede Memória das Lutas – Medelu.

NOTAS
[1] A fabricante é a empresa austríaca Doppelmayr Garaventa.
[2] Ler Economía Plural, La Paz, abril 2014.
[3] Ler Página Siete, La Paz, 12 outubro 2014.
[4] Entre 2005 e 2013, o PIB por habitante mais que dobrou(de 1.182 dólares para 2.757 dólares). A Bolívia não é mais um “país de baixa renda” e foi declarada “país de renda média”. Ler “Bolivia, una mirada a los logros más importantes del nuevo modelo econômico” em Economía Plural, La Paz, junho 2014.
[5] A boa gestão das finanças públicas possibilitou à Bolívia tornar-se o segundo país de maior superávit orçamentário da América Latina no curso dos últimos oito anos.
[6] Em cifras absolutas, as reservas internacionais da Bolívia são de aproximadamente 16 bilhões de dólares. Em 2013, o PIB foi cerca de 31 bilhões de dólares.
[7] Uma quantia de 200 bolivianos anuais (23 euros) é dada a cada aluno do ensino público fundamental e médio que acompanhou todas as aulas regularmente. O objetivo é lutar contra a evasão escolar.
[8] Uma pensão que todos os bolivianos recebem a partir de 60 anos, mesmo aqueles que jamais contribuíram com o sistema de Previdência.
[9] Uma ajuda econômica de 1.820 bolivianos (cerca de 215 euros) é fornecida às mulheres grávidas e por cada menino ou menina de menos de dois anos com o objetivo de reduzir a taxa de mortalidade infantil e materna.
[11] Ler, de Atilio Borón, “Por que Evo Morales venceu outra vez?” Outras Palavras, 13/10/2014.
[12] “Agenda patriótica 2025: la ruta boliviana del vivir bien (Agenda patriótica 2025:o caminho boliviano do bem viver)”. Em 2025 será a festa do bicentenário da independência e da fundação da Bolívia.
[13] A Bolívia fez uma consulta à Corte internacional de justiça de Haia. Leia El libro del mar, ministério de assuntos estrangeiros, La Paz, 2014.

Você sabe o que é o bolivarianismo?


Após ser apropriado pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, o termo originado do sobrenome do libertador Simón Bolívar aterrissou no debate político brasileiro. São frequentes as acusações de políticos de oposição e da mídia contra o governo federal petista. Lula e Dilma estariam "transformando o Brasil em uma Venezuela". Mas o que é o tal bolivarianismo de que tanto falam? É um palavrão? O Brasil é uma Venezuela? Bolivarismo é sinônimo de ditadura comunista? Antes de sair por aí repetindo definições equivocadas, leia as respostas abaixo:

O que é bolivarianismo?
O termo provém do nome do general venezuelano do século 19 Simón Bolívar, que liderou os movimentos de independência da Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Bolívia. Convencionou-se, no entanto, chamar de bolivarianos os governos de esquerda na América Latina que questionam o neoliberalismo e o Consenso de Washington (doutrina macroeconômica ditada por economistas do FMI e do Banco Mundial).

Bolivarianismo e ditadura comunista são a mesma coisa?
Não. Mesmo considerando a interpretação que Chávez deu ao termo, o que convencionou-se chamar bolivarianismo está muito longe de ser uma ditadura comunista. As realidades de países que se dizem bolivarianos, como Venezuela, Bolívia e Equador, são bem diferentes da Rússia sob o comando de Stalin ou mesmo da Romênia sob o regime de Nicolau Ceausescu. Neles, os meios de produção estavam nas mãos do Estado, não havia liberdade política ou pluralidade partidária e era inaceitável pensar diferentemente da ideologia dominante do governo. Aqueles que o faziam eram punidos ou exilados, como os que eram enviados para o gulag soviético, campo de trabalho forçado símbolo da repressão ditatorial da Rússia. Na Venezuela, por exemplo, nada disso acontece. A oposição tem figuras conhecidas como Henrique Capriles, Leopoldo López e Maria Corina Machado. Cenário semelhante ocorre na Bolívia, no Equador e também no Brasil, onde há total liberdade de expressão, de imprensa e de oposição ao governo.

Foi Chávez quem inventou o bolivarianismo?
Não. O que o então presidente venezuelano Hugo Chávez fez foi declarar seu país uma "república bolivariana". A mesma retórica foi utilizada pelos presidentes Rafael Correa (Equador) e Evo Morales (Bolívia). A associação entre bolivarianismo e socialismo, no entanto, é questionável segundo a própria biógrafa de Bolívar, a jornalista peruana Marie Arana, editora literária do jornal americano The Washington Post. De acordo com ela, esse “bolivarianismo” instituído por Chávez na Venezuela foi inspirado nos ideais de Bolívar, tais como o combate a injustiças e a defesa do esclarecimento popular e da liberdade. Mas, segundo a biógrafa, a apropriação de seu nome por Chávez e outros mandatários latinos é inapropriada e errada historicamente: “Ele não era socialista de forma alguma. Em certos momentos, foi um ditador de direita”.

O que se tornou o bolivarianismo na Venezuela?
Quando assumiu a Presidência da República em 1999, Chávez declarou-se seguidor das ideias de Bolívar. Em seu governo uma assembleia alterou a Constituição da Venezuela de 1961 para a chamada Constituição Bolivariana de 1999. O nome do país também mudou: era Estado Venezuelano e tornou-se República Bolivariana da Venezuela. Foram criadas ainda instituições de ensino com o adjetivo, como as escolas bolivarianas e a Universidade Bolivariana da Venezuela.

Mas esse regime que Chávez chamava de bolivarianismo era comunista?
Não, apesar de o ex-presidente venezuelano ter usado o termo "Revolução Bolivariana" para referir-se ao seu governo. A ideia era promover mudanças políticas, econômicas e sociais como a universalização à educação e à saúde, além de medidas de caráter econômico, como a nacionalização de indústrias ou serviços. Chávez falava em "socialismo do século XXI", mas o governo venezuelano continua permitindo a entrada de capital estrangeiro no País, assim como a parceria com empresas privadas nacionais e estrangeiras. Empreiteiras brasileiras, chinesas e bielo-russas, por exemplo, constroem moradias para o maior programa habitacional do país, o Gran Misión Vivienda Venezuela, inspirado no brasileiro Minha Casa Minha Vida.

O Brasil "virou uma Venezuela"?
Esta afirmação não faz sentido. O Brasil é parceiro econômico e estratégico da Venezuela, mas as diretrizes do governo Dilma e do governo de Nicolás Maduro são bastante distintas, tanto na retórica quanto na prática.

Os conselhos populares são bolivarianos?
Não, e aqui o engano vai além do uso equivocado do adjetivo. Parte da Política Nacional de Participação Social, os conselhos populares seriam a base de um complexo sistema de participação social, com a finalidade de aprofundar o debate sobre políticas públicas com representantes da sociedade civil. Ao contrário do alegado por opositores, os conselhos de participação popular não são uma afronta à democracia representativa. Conforme observou o ex-ministro e fundador do PSDB Luiz Carlos Bresser-Pereira, os conselhos estabeleceriam “um mecanismo mais formal por meio do qual o governo poderá ouvir melhor as demandas e propostas [da população]”.
Fonte: Carta Capital

A tática Black Bloc e as histórias não contadas na grande mídia

Por Cíntia Alves, publicado originalmente no GGN
“Muitos falaram sobre eles, mas com eles, poucos.” É assim que a espanhola Esther Solano Gallego, uma das autoras do livro “Mascarados – A verdadeira História dos adeptos da tática Black Bloc” falou ao GGN sobre o bloco negro que tomou as ruas de diversas cidades do País a partir de junho de 2013, com um olhar especial sobre o movimento em São Paulo.
Foi no Estado governado por Geraldo Alckmin que a professora da Unifesp foi utilizada, inúmeras vezes, por jornalistas da grande mídia que queriam chegar a qualquer um dos mascarados, ou apenas reportar o clima das manifestações que renderam picos de audiência nos programas de TV.
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Esse ruído na mensagem que os adeptos da tática Black Bloc pretendiam enviar à população despertou em Esther e nos jornalistas Bruno Paes Manso (Estadão) e Willian Novaes (editora Geração) o interesse em recontar a história dessa massa negra mal compreendida (ou, no mínimo, mal explorada). De pouco mais de um ano de contato direto com os mascarados – pois a pesquisa se estendeu até os protestos na Copa do Mundo – nasceu o livro que será lançado no dia 4 de novembro, na capital paulista.Muitos dos profissionais da imprensa tradicional, segundo contam os autores, criaram um “cordão imaginário de isolamento”, uma distância “inexplicável” dos verdadeiros atores dos protestos violentos contra o Estado, o sistema financeiro atual e as mazelas da sociedade.
Dividido em quatro partes, “Mascarados” insere e contextualiza a tática nas manifestações que eclodiram em junho de 2013. Na obra, Esther aprofunda-se na pesquisa sobre os adeptos, Bruno Paes explica como foi a cobertura na grande mídia e Willian Novaes traça sete perfis que representam os cerca de 70 black blocs de São Paulo, além de entrevistar o coronel Reinaldo Rossi, que acabou sendo agredido por um destacamento do bloco negro.
Na visão de Novaes, chama atenção o fato de a grande imprensa, principal interlocutora entre as massas e os fatos do cotidiano, não ter mergulhado na realidade dos mascarados. Tampouco as autoridades policiais ou o Estado conseguiram explicar quem eram esses manifestantes, e o que queriam dizer, pois o diálogo foi negligenciado.
“O que eu senti foi um receio por parte da mídia de uma coisa que não existia. E o livro vem à tona justamente para isso: mostrar quem são esses rapazes e moças que usaram a tática Black Bloc, pois isso não passou na TV”, comentou o jornalista.
Por trás das máscaras
E quem eram as pessoas dispostas a entrar em confronto direto com a polícia para defender os manifestantes pacíficos, ou que quebravam vidraças de instituições financeiras e até patrimônios públicos?
Segundo Willian Novaes, “eram desde garotos com 14 anos, até adultos com, no máximo, 30, 33 anos. Mas a maioria está concentrada entre 18 e 22 anos. São rapazes do PT ou do PSOL? Turma do PSDB tentando destituir o adversário do governo [federal]? Não existiu nada disso! Uma parte dos adeptos da tática Black Bloc era de anarquistas; a outra, de jovens cansados de conviver com a violência policial e com o preconceito contra pobre e negro. No livro, tem desde morador dos Jardins até da Brasilândia. Tem gente do ABC, do Centro da cidade, de todo lugar.”
Eles se conheceram nas ruas, nas primeiras manifestações, quando apareceram alguns usando a tática que surgiu na Alemanha, há décadas, em meio a protestos políticos. “A maioria ficou encantada. Tinha o problema da violência policial, que eles queriam revidar. E outra coisa perceptível era a paixão comum pela violência. A violência atraiu esses jovens”, disse Novaes.
Para Esther, eles queriam chamar atenção para uma discussão política. “Eles diziam muito que ‘vândalos é o Estado, criminoso é o Estado’. Conseguiram chamar atenção até da mídia internacional. Mas a principal crítica deles mesmos é que não conseguiram levar a verdadeira mensagem que eles queriam. Por exemplo: quebrar agência de banco é um modo de dizer que o banco é um verdadeiro criminoso, que escraviza a população. Mas será que a população entende essa mensagem?”
“Parece que não existiu uma vontade de descobrir quem eram aqueles moleques”, ponderou Novaes. “Nem a imprensa e nem a Polícia chegaram a essa identidade. A Polícia Civil desenvolveu um inquérito, mas tudo indica que a corporação não mapeou corretamente os praticantes da tática Black Bloc.” A corporação acha que se trata, em parte, de jovens incentivados por partidos de esquerda. “Não deveria ser tão difícil mapear porque não eram tantas pessoas assim. Foram poucos garotos. Se alguém tem culpa pela dimensão dessa massa, é a imprensa, que acabou dando espaço demais ao assunto”, acrescentou.
Retorno às ruas
Depois do insucesso na comunicação com a sociedade e do prolema criado com a polícia, será que os mascarados retornam às ruas?
“Uma parte diz que foi usada pelos governantes que queriam disputar entre si. Uns acham que as manifestações tiveram sucesso. Mas no final, a maioria está cansada. Viram que a tática não deu em nada. Por que o que foi que nós vimos esse ano? Nós elegemos um Congresso mais conservador, reelegemos a presidente, Alckmin está reeleito. Por essa avaliação e por outros problemas, como a prisão de dois garotos que não tiveram absolutamente nada com os black blocs, acho não sei se eles voltam à prática”, avaliou Novaes.
Para Esther, há dúvidas. “Esses jovens são engajados, eles se transformaram, deixaram as camisetas negras de black blocs mas estão entrando para outros grupos, como o da campanha do voto nulo. Mas a tática pode virar uma moda, de certa forma. Por exemplo, estamos em São Paulo com uma crise de água. Quem sabe a gente volte a assistir manifestações contra isso, e a tática pode voltar a ser aplicada. Não dá para saber se eles voltam não, porque não é um grupo fechado. É uma tática que pode ser aplicada por quem achar o momento propício.”