Em meio à onda de manifestações que agita o país este mês, a Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE) do Senado pode votar esta semana uma proposta
polêmica que contraria interesses dos políticos. Caso o projeto (PLS 99/2009)
do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) vire lei, todos os detentores de
mandato eletivo cairão automaticamente na “malha fina” do Imposto de
Renda da Pessoa Física. A medida alcança presidente da República,
governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores.
O parecer do relator, senador Eduardo Suplicy (PT-SP), é pela
aprovação e está na pauta desta terça-feira (25) da CAE, onde tramita em
caráter terminativo, ou seja, sem a obrigatoriedade de passar pelo
plenário. Em 2010, a proposta recebeu voto contrário da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ), que a considerou inconstitucional e
discriminatória contra os políticos. Caso seja aprovada pelo Senado, a
proposição terá de ser examinada pela Câmara.
Para Cristovam, a medida é necessária para aperfeiçoar os mecanismos
de controle dos agentes públicos num cenário em que são crescentes as
denúncias de malversação de dinheiro público e de enriquecimento ilícito
de políticos. Com a inclusão automática de detentores de mandato na
“malha fina”, a Receita teria mais instrumentos para verificar a
compatibilidade entre os rendimentos e os bens dos políticos, defende o
senador.
“Poderia evitar que muitas irregularidades praticadas só viessem a
ser descobertas anos após os atos de improbidade terem sido praticados e
os desfalques terem assumido grandes proporções”, afirma o pedetista na
justificativa de seu projeto.
Discriminação
Na CCJ, o parecer contrário à proposta foi elaborado pelo senador
Francisco Dornelles (PP-RJ). Para ele, o projeto padece de “vício
irremovível” ao contrariar o tratamento igualitário previsto na
Constituição a todos os contribuintes.
“Trata-se, sem sombra de dúvida, de discriminação em razão da
ocupação exercida pela pessoa”, alegou Dornelles em seu parecer, que
teve o apoio da maioria dos integrantes da CCJ em abril de 2010. Segundo
o senador fluminense, a proposta parte do pressuposto de que todos os
agentes públicos são suspeitos antes mesmo que sejam apontadas
irregularidades em sua relação patrimonial.
Rigor maior
Relator do projeto na CAE, Eduardo Suplicy discorda do entendimento
de Dornelles e da CCJ. “A proposição não parte do princípio de que todo
ocupante de mandato eletivo seja um infrator em potencial, mas, sim, de
que todo cidadão imbuído de tamanha responsabilidade se submeta a
rigores maiores de fiscalização que aqueles não investidos como agentes
políticos”, defende Suplicy em seu parecer, elaborado em maio de 2011 e
só há um mês incluído na pauta da CAE. O item pode ser analisado na
reunião desta terça-feira.
A insatisfação com os políticos e os partidos é um dos principais
combustíveis das manifestações que levaram mais de 1 milhão de
brasileiros às ruas nas últimas semanas. Os presidentes da Câmara e do
Senado prometem se reunir com as lideranças partidárias esta semana para
estabelecer uma pauta positiva que atenda, de algum modo, às
reivindicações populares. Um dos principais questionamentos dos
manifestantes é o tratamento diferenciado garantido a políticos, desde
os auxílios atrelados ao cargo até os privilégios na Justiça.
Fonte: Congresso em foco
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