Urbanização incompleta é estratégia do capital

Por Camila Nobrega e Rogério Daflon
Harvey, que está no Brasil para o lançamento do livro “Os limites do capital” em português, pela Boitempo, desafia o coro dos contentes sem qualquer bravata. Age assim porque vê um mundo com cada vez menos gente satisfeita com os rumos do capitalismo. Sem palavras de ordem e dispensando clichês, o geógrafo diz que há uma atmosfera para se criar um grande movimento anticapitalista. Ele vislumbra uma convergência entre os protestos no Brasil, a revolta da Praça Tahrir (na Tunísia) e outras manifestações internacionais : “Atualmente, quando um presidente diz ‘o país está indo muito bem’, ele quer dizer que o capital está indo bem, mas as pessoas estão indo mal.” Nesta entrevista, Harvey explica o porquê de tanta insatisfação.
Canal Ibase: Com os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo, nunca foi tão caro morar no Rio de Janeiro. E isso está impactando a renda de todas as classes sociais na metrópole. Mas é claro que as classes mais pobres são as mais prejudicadas. Qual serão, na sua opinião, as consequências dessa segregação?
David Harvey: O interesse que o capital tem na construção da cidade é semelhante à lógica de uma empresa que visa ao lucro. Isso foi um aspecto importante no surgimento do capitalismo. E continua a ser. Após Segunda Guerra, por exemplo, os Estados Unidos construíram os subúrbios de uma maneira muito rentável. O que temos visto, nos últimos 30 anos, é a reocupação da maioria dos centros urbanos com megaprojetos. Muitos desses projetos associam a urbanização ao espetáculo. E fazem um retorno à descrição de Guy Debord sobre a sociedade do espetáculo.  Faz todo sentido na diretriz da realização dos megaeventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo. O capital precisa que o estado assegure essa dinâmica. Assim, pode usar esses eventos como instrumentos de investimentos e mais lucratividade. Invariavelmente, entre as consequências dos megaeventos estão as remoções de pessoas de algumas áreas. Eles dependem disso para serem realizados. E essa situação tem causado revolta. De um lado, o capital vai muito bem, mas as pessoas vão mal. Há alguma geração de empregos, em função dos megaprojetos e megaeventos, mas o que se vê é o desvio da verba pública para apoiar essas empreitadas. Ao redor do mundo, tem havido muitos protestos devido à retirada de pessoas de suas residências. As populações percebem que o dinheiro dos impostos está indo para esses fins, em detrimento da construção de escolas e hospitais. Este é um contexto que ilustra como o capital gosta de construir as cidades, à diferença do que é a cidade em que as pessoas podem viver bem. Há um abismo entre essas duas propostas. Essa é a grande briga, porque enquanto o capitalismo quer desempoderar pessoas, a fim de reproduzir a si próprio, elas querem verbas para outras coisas. O grande problema é que a tendência é a dominação do capital sobre o poder político nas cidades. O financiamento das campanhas políticas é um instrumento para que isso aconteça. Trata-se de controle sobre a representação política. Essa lógica tem ocorrido em vários lugares do mundo, não só na viabilização de megaeventos no Brasil. Trata-se de um processo padrão. Remete à Coréia do Sul, em Seul (Olimpíadas de 1988). E também à Grécia. Se pensarmos na Grécia hoje, um país que sediou as Olimpíadas (Atenas, em 2004), vemos que esses eventos não costumam trazer grandes benefícios econômicos. O país está numa profunda crise econômica. Há grandes estádios construídos mas, a longo prazo, essas edificações gigantes não trazem vantagens para o país.
Canal Ibase: Mas, e quanto à Barcelona, que aqui no Brasil é um dos exemplos mais disseminados como uma cidade que aproveitou muito bem um megaevento?
Harvey: Bem, eu acho que Barcelona era uma excelente cidade antes das Olimpíadas (de 1992). Eu nem gosto de voltar muito lá. Costumo dizer que o ápice da cidade foi antes das Olimpíadas. Depois disso, foi ladeira abaixo.
Canal Ibase: Na África do Sul, muitas pessoas foram expulsas de suas casas devido às obras relacionadas à Copa do Mundo…
Harvey: Exatamente. O problema das remoções tem sido recorrente. Há muita luta em torno disso. Isso é típico. Se há pessoas pobres vivendo em terras muito valorizadas, há uma tentativa de tirá-las de lá. Uma forma de levar isso a cabo é o aumento do custo de vida. Os megaprojetos também são uma excelente desculpa.
Canal Ibase: Qual é sua reflexão sobre o papel do grandes veículos de comunicação na lógica de acumulação do capital nas intervenções urbanas?
Harvey: Claramente, o controle da mídia é uma ameaça para a democracia popular. A questão é como se faz uma cobertura e o que é coberto. Os jornalistas que querem cobrir os acontecimentos de uma forma mais real têm vivido tempos difíceis. É uma luta pela liberdade de expressão. O caminho passa pela mídia alternativa, e a tecnologia, com a internet, abre possibilidades. O problema é que a mídia alternativa pode ser absorvida e disciplinada pelo mercado. É uma disputa que está sendo travada.  Mas é importante lembrar que vivemos sob monopólios dos meios de comunicação no mundo. A desinformação pode ser espalhada tão facilmente como a informação. E há monopólio inclusive nas mídias sociais. Ainda há muitas perguntas a serem respondidas sobre o papel das mídias sociais e sua diferença em relação às mídias convencionais.
Canal Ibase: As obras de urbanização nas favelas do Rio têm como característica a falta de diálogo com as populações e a descontinuidade dessas intervenções. Ocorreu com um projeto chamado Favela Bairro e agora se repete com um Programa de Aceleração do Crescimento. Nota-se o desinteresse do poder público de oferecer os mesmos serviços da cidade sem que haja gentrificação, embora as grandes construtoras estejam sempre presentes nessas obras. Para não legitimar a permanência dos moradores de favelas, as obras são interrompidas sempre. Qual a avaliação do senhor sobre isso?
Harvey: Se há populações de baixa renda em terras de alto valor, uma das estratégias é dar títulos de propriedade aos moradores dessas áreas, sob o argumento da regularização fundiária e da garantia da moradia. Não sei como isso ocorre no Brasil, mas um dos projetos em favelas, periferias e outras áreas pobres tem sido essa concessão de títulos de propriedades. Porque propriedade o capital pode comprar. Assim começa um processo de reocupação dessas áreas e sua consequente gentrificação. Por outro lado, uma forma de manter os preços baixos em determinadas comunidades é ter projetos incompletos. Então, o estado oferece intervenções, mas não as termina. E, desse jeito, os moradores vendem a terra a um preço baixo e saem do local. Quando a oferta chega, a infraestrutura ainda não está lá. Essa estratégica é típica nos Estados Unidos, onde se compram propriedades e as levam à decadência forçadamente. Desse jeito, desvalorizam um bairro inteiro e, num período de dez anos, é possível reocupá-lo comprando propriedades no entorno. Como o estado está envolvido nisso? Depende de lugar para lugar. Às vezes, o estado é apenas incompetente e não sabe o que está fazendo. Nesse caso, o estado pode começar uma obra e simplesmente parar no meio. Não necessariamente é uma estratégia deliberada. Mas em alguns casos é. E responde aos interesses privados. Nesses casos, há de fato uma estratégia quando uma empresa quer atuar em determinado lugar. E se decide começar uma obra já sabendo que não vai terminá-la. Ao não se terminarem projetos de infraestrutura, abre-se caminho para a chegada das empresas privadas.
Canal Ibase: No Brasil, o estado tem feito alianças com transnacionais, que têm usado e abusado do territórios brasileiro, nas zonas urbanas e rurais. Um dos setores onde isso é mais grave é a mineração. sobretudo no que diz respeito à mineração. Como a sociedade civil pode reagir a isso?
Harvey: O principal jeito de reagir é por meio de protestos. Eu fico abismado que países como o Brasil ainda abram mão de seus recursos naturais para multinacionais. E há outras formas de exploração, como é o caso das plantações de soja. Empresas como a norte-americana Monsanto (líder mundial de venda de sementes transgênicas e agrotóxico) e outras líderes do agronegócio tomam conta de territórios. A terra no Brasil vem sendo constantemente degradada por esse processo. E o ciclo é maior. É preciso lembrar que o principal mercado do agronegócio brasileiro é a China. De um lado, são os Estados Unidos vendendo a semente e o agrotóxico e, de outro, a China comprando. Um problema que se agrava é o controle chinês de terras na América Latina.
Canal Ibase: O geógrafo brasileiro Milton Santos tem uma frase que diz: “A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos que apenas conseguem enxergar o que os separa e não o que os une”. O senhor tem falado sobre a divisão da esquerda no mundo, da fragmentação dos movimentos sociais. Para a criação de um movimento anticapitalista, quais são os elementos invisíveis que perpassam todos os movimentos? O que liga a preservação do meio ambiente, a luta das mulheres por autonomia e o direito à cidade, por exemplo?
Harvey: Eu conheço Milton Santos, especialmente o dos anos 1970. Depois disso, ele se tornou muito pró-franceses. E ele não gostava de norte-americanos (risos; Harvey leciona na Universidade da Cidade de Nova York). Se eu tivesse a resposta para essa pergunta, poderíamos ter começado a revolução. Mas não tenho uma boa resposta.  É importante ter alianças que cruzem movimentos ambientalistas, o feminismo, assim como juntar organizações que trabalham por questões como a da moradia ou questões étnicas. Mas às vezes divergências tolas quebram essas alianças. Na minha opinião, precisamos definir o que é anticapitalismo. Não há razão para ser anticapitalista, se você acha que o capitalismo está fazendo um bom trabalho. Mas, se você não acha…Uma das coisas que eu tenho discutido com amigos da esquerda é esse conceito de anticapitalismo. Há opiniões que afirmam que o capitalismo fez um trabalho melhor que o comunismo e o socialismo. No entanto, o que está acontecendo agora é um processo violento. Se queremos mudar, temos muito trabalho a fazer. Não há muita gente na mídia interessada no que nós fazemos. Não somos um grupo muito poderoso, nem temos popularidade. É importante, entretanto, fazer esse grupo crescer, explicando às pessoas  por que é importante ser anticapitalista.
(Na palestra ministrada logo em seguida à entrevista ao Canal Ibase, Harvey complementou esse raciocínio: “Estamos em um mundo em que o neoliberalismo está ficando enraizado. Se a pessoa vai mal, a culpa é dela, e não do sistema. Ah!, e só para lembrar: é também você o responsável por pagar sua educação. Eu sempre estudei em instituições públicas até o doutorado. Hoje em dia, isso não é possível nem na Inglaterra nem nos Estados Unidos. O movimento anticapitalista poderia visar a algumas vitórias, como tornar novamente públicos o transporte, a saúde e a educação. O que estou tentando dizer é que, se você é pobre ou tem dificuldades de acesso a serviços, você é um produto do sistema; a culpa não é sua. E só há como mudar isso mudando o sistema. Em que sociedade você quer viver? Na sociedade em que a educação é com base no valor de uso ou no valor de troca?”, disse o geógrafo, fazendo a oposição por meio desses dois conceitos marxistas)
Canal Ibase: Movimentos sociais já contabilizam 100 mil pessoas removidas de suas casas apenas no Rio de Janeiro, para realização de obras em função dos megaeventos. Que forças do capitalismo levam, mesmo após os protestos que ocorreram no país inteiro, à manutenção desta alteração brutal no território?
Harvey: Como falamos anteriormente, o capitalismo depende de uma dinâmica maior. Mas precisamos redefinir coisas. Moradia não pode ser vista como commodity. A questão central é descobrir se você quer uma cidade para as pessoas ou para o lucro. Para construir uma cidade diferente, é preciso ser anticapitalista. Não há outra forma.

Julian Assange com Cuba




Assange demonstra solidariedade aos Heróis de Cuba presos nos EUA

O fundador do Wikileaks, Julian Assange, fez uma videoconferência com jovens blogueiros cubanos na quinta-feira (26/09/2013) e apareceu na tela com uma fita amarela no peito, demostrando solidariedade com os Heróis de Cuba, que estão presos nos EUA há 15 anos.
“Minha solidariedade aos Cinco”, disse Assange sobre o caso de Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando e René González, que foram acusados de conspiração e espionagem quando, na verdade, combatiam os atos terroristas das organizações anticastristas da Flórida. Eles foram presos em 1998 e apenas René está em liberdade após cumprir sua pena integralmente nos Estados Unidos.
Durante uma oficina sobre ciberjornalismo transmitida pelo Instituto Internacional de Jornalismo José Martí de Havana, o fundador da organização responsável pelo maior vazamento de documentos sigilosos da história dos EUA afirmou que o Wikileaks, assim como Cuba, também vive um bloqueio do país imperialista.
"Este momento que estamos vivendo juntos reflete algo que está passando no mundo, porque permite romper um bloqueio imoral como o que está sofrendo Cuba e isso é algo que o Wikileaks tenta superar, trazendo um novo tipo de solidariedade e de conjunção entre as pessoas que estão lutando pela mesma causa", expressou Assange.
“A razão deste bloqueio acontece porque são contra que Cuba tenha sua própria determinação. O desejo de bloquear o Wikileaks vem do desejo que não se fale com liberdade do que passa nos EUA", comparou.
Ele disse aos jovens cubanos que  vivemos em um estado midiático e as decisões que tomamos se baseiam naquilo que conhecemos. Sobre isso, Assange citou Noam Chomsky que disse "que os meios são como o bastão que qualquer ditador pode carregar".
Ao mesmo tempo em que o fundador do Wikileaks assegurou que a internet é um espaço que lhe permitiu romper o bloqueio norte-americano e dizer a todos a verdade, ele ressaltou que as poucas corporações de grande porte manipulam também esses espaços e resistem em dizer a verdade.
Fita amarela
Partiu de René Gonzáles a iniciativa da jornada de fitas amarelas em prol de seus companheiros de luta, que permanecem presos nos EUA. O símbolo da manifestação popular que faz parte da Jornada Internacional de Luta pela Libertação dos Cinco é uma velha marca norte-americana que indica a espera por alguém que está longe.
O emblema da fita amarela ficou conhecido na canção popular "Tie a Yellow Ribbon Around the Old Oak Tree" (amarre uma fita amarela ao redor da velha árvore de carvalho). A música conta a história de um preso que está para sair da cadeia e que a única coisa que pede à sua prometida é que coloque uma fita amarela na árvore, se ainda o amar. Quando chega, o homem se depara com cem fitas amarradas em um carvalho.
Gonzáles dirigiu um videoclipe com os músicos cubanos Silvio Rodríguez e Amaury Pérez, interpretando a música dos anos 1970. Segundo ele, trata-se de “uma mensagem do povo cubano ao povo norte-americano, através de um símbolo de carinho que eles consigam compreender em seu idioma”.

Esquerda no Poder

O primeiro é imaginar que PT e PCdoB são de esquerda. Caso consideremos de esquerda, as posições anticapitalistas, concluiremos que os citados partidos nada têm de esquerda. 
Se por ventura, houve no PT, um sentimento anticapitalista, com o andar da carruagem, prevaleceu à adesão desse partido a condição de força de sustentação da ordem socioeconômica vigente. Isso ficou claro com a "Carta ao Povo Brasileiro", documento em que o PT se propunha a garantir os interesses maiores do sistema. 
Empenharam-se em mostrar que o "leão era mansinho e desdentado". Procuraram garantir que as linhas gerais do Plano Real seriam mantidas. Não bastassem essas garantias, comprometiam-se em nomear para o Banco Central, alguém da confiança do grande capital. 
As promessas foram cumpridas, e o PT se prestou a promover um trabalho de engessamento do movimento popular. Ao lado da paralisia dos movimentos populares e sindicais, processou-se um trabalho de construção de um imenso colégio eleitoral, base de sustentação política para o petismo, através do Bolsa Família. 
Esse conjunto de medidas assegurava à burguesia, a "paz social" para que fossem auferidos grandes lucros, sem maiores estremecimentos. Em troca de tantos serviços prestados, o PT passou a merecer os mimos dos afortunados, especialmente dos empreiteiros, que nunca se negaram a regar, com gordas doações, os caixas de campanha. 
Quanto ao PCdoB que, mesmo equivocado, era um partido de teor ideológico, transformou-se em uma agremiação fisiológica e até vem contribuindo para uma nova "formulação política", qual seja, a do "caminho para o socialismo, através do esporte". A combatividade e os mártires desse partido, ocorridos outrora, não podem servir de salvo-conduto para a sua vergonhosa capitulação. 
Esquerda não são, nem PT, nem PCdoB! Por sua vez, essas organizações chegaram, apenas, ao governo. É bom salientar, porém, que há uma diferença abismal entre governo e poder. Governos vão e vêm, têm um caráter episódico, enquanto isso, o poder tem caráter permanente. O poder é o Estado, e mudanças de governo não implicam na desconstrução do Estado. Ele permanece pronto para defender os interesses do capitalismo. Esquerda no poder é um disparate, próprio de pessoas de má fé ou politicamente desinformadas. 

Wikileaks desmascarou a Globo

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Wikileaks tira máscara da mídia brasileira e comprova: estão a serviço dos EUA
Aconteceu o que já era de conhecimento dos menos desavisados. A grande imprensa brasileira foi finalmente desnudada, com tudo comprovado em documentos oficiais e sigilosos. Quem ainda tinha motivos para outorgar credibilidade à estes veículos e seus jornalistas, não tem mais. Documentos vazados pela organização WikiLeaks trazem à tona detalhes e provas da estreita relação do USA com o monopólio dos meios de comunicação no Brasil semicolonial.
Um despacho diplomático de 2005, por exemplo, assinado pelo então cônsul de São Paulo, Patrick Dennis Duddy, narra o encontro em Porto Alegre do então embaixador John Danilovich com representantes do grupo RBS, descrito como “o maior grupo regional de comunicação da América Latina“, ligado às organizações Globo.
O encontro é descrito como “um almoço ‘off the record’ [cujo teor da conversa não pode ser divulgado], e uma nota complementar do despacho diz: “Nós temos tradicionalmente tido acesso e relações excelentes com o grupo”.
Outro despacho diplomático datado de 2005 descreve um encontro entre Danilovich e Abraham Goldstein, líder judeu de São Paulo, no qual a conversa girou em torno de uma campanha de imprensa pró-sionista no monopólio da imprensa no Brasil que antecedesse a Cúpula América do Sul-Países Árabes daquele ano, no que o jornalão O Estado de S.Paulo se prontificou a ajudar, prometendo uma cobertura “positiva” para Israel.
Os documentos revelados pelo WikiLeaks mostram ainda que nomes proeminentes do monopólio da imprensa são sistematicamente convocados por diplomatas ianques para lhes passar informações sobre a política partidária e o cenário econômico da semicolônia ou para ouvir recomendações.
Um deles é o jornalista William Waack, apresentador de telejornais e de programas de entrevistas das Organizações Globo. Os despachos diplomáticos enviados a Washington pelas representações consulares ianques no Brasil citam três encontros de Waack com emissários da administração do USA. O primeiro deles foi em abril de 2008 (junto com outros jornalistas) com o almirante Philip Cullom, que estava no Brasil para acompanhar exercícios conjuntos entre as marinhas do USA, do Brasil e da Argentina.
O segundo encontro aconteceu em 2009, quando Waack foi chamado para dar informações sobre as conformações das facções partidárias visando o processo eleitoral de 2010. O terceiro foi em 2010, com o atual embaixador ianque, Thomas Shannon, quando o jornalista novamente abasteceu os ianques com informações detalhadas sobre os então candidatos a gerente da semicolônia Brasil.
Outro nome proeminente muito requisitado pelos ianques é do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, d’A Folha de S.Paulo. Os documentos revelados pelo WikiLeaks dão conta de quatro participações do jornalista (ou “ex-jornalista e consultor político”, como é descrito) em reuniões de brasileiros com representantes da administração ianque: um membro do Departamento de Estado, um senador, o cônsul-geral no Brasil e um secretário para assuntos do hemisfério ocidental. Na pauta, o repasse de informações sobre os partidos eleitoreiros no Brasil e sobre a exploração de petróleo na camada pré-sal.
Fernando Rodrigues, repórter especial de política da Folha de S.Paulo, chegou a dar explicações aos ianques sobre o funcionamento do Tribunal de Contas da União.
Outro assunto que veio à tona com documentos revelados pelo WikiLeaks são os interesses do imperialismo ianque no estado brasileiro do Piauí.
Um documento datado de 2 de fevereiro de 2010 mostra que representantes do USA participaram de uma conferência organizada pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), na capital Teresina, a fim de requisitar a implementação de obras de infra-estrutura que poderiam favorecer a exploração pelos monopólios ianques das imensas riquezas em matérias-primas do segundo estado mais pobre do Nordeste.
A representante do WikiLeaks no Brasil, a jornalista Natália Viana, adiantou que a organização divulgará em breve milhares de documentos inéditos da diplomacia ianque sobre o Brasil produzidos durante o gerenciamento Lula, incluindo alguns que desnudam a estreita relação do USA com o treinamento do aparato repressivo do velho Estado brasileiro. 

Como nos ensinam a “estudar”

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De acordo com o dicionário Michaelis UOL, a palavra educação se define da seguinte forma:
educação
e.du.ca.ção
sf (lat educatione) 1 Ato ou efeito de educar. 2 Aperfeiçoamento das faculdades físicas intelectuais e morais do ser humano; disciplinamento, instrução, ensino. 3 Processo pelo qual uma função se desenvolve e se aperfeiçoa pelo próprio exercício: Educação musical, profissional etc. 4 Formação consciente das novas gerações segundo os ideais de cultura de cada povo. 5 Civilidade. 6 Delicadeza. 7Cortesia. 8 Arte de ensinar e adestrar os animais domésticos para os serviços que deles se exigem. 9Arte de cultivar as plantas para se auferirem delas bons resultados. E. física: a que consiste em for­mar hábitos e atitudes que promovam o desen­volvimento harmonioso do corpo humano, mediante instrução sobre higiene corporal e mental e mediante vários e sistemáticos exercícios, esportes e jogos.
O conceito aqui considerado é o abrangido nos itens de 1 a 4.
Pode-se dizer que, atualmente, a educação brasileira se baseia em um objetivo. Desde pequenos os alunos são estimulados a escolher uma área de atuação com o intuito de se decidirem profissionalmente no futuro. Este objetivo, então, tem a ver com a profissão e a função social que os jovens terão quando forem adultos. Não vou entrar no mérito de que hoje se estuda para ter um bom emprego, pois esse tema é amplo e pode ser contemplado num artigo próprio. O fato é que este objetivo tem como pivô uma prova chamada vestibular.
O vestibular é o ápice da formação básica (ensino fundamental e ensino médio). Tudo o que é transmitido aos alunos gira em torno desta prova. Todas as séries preparam gradativamente os alunos para estarem prontos para uma prova. Além disso, o sistema ainda incita repetidas vezes que esta prova é a que decidirá todo o resto da vida deles, que todo e qualquer caminho que o aluno resolva trilhar quando sair da escola depende dessa prova. Uma crueldade, diga-se de passagem. Nos vendem um discurso onde os que passam na prova são os vencedores (e os que não passam, são o quê?) e não medem as consequências dessa repetição.
Uma pessoa que entra na escola com três anos de idade e se forma no ensino médio com dezessete anos terá passado quinze anos de sua existência se “aprontando” para uma única prova, para uma única etapa, para uma única fase. É algo tão limitado que chega a ser inacreditável. É difícil entender o porquê desse sistema persistir, o porquê de quase ninguém se sentir lesado por conta dele.
As disciplinas hoje ministradas carregam em si um número desmedido de conteúdos. Muitos dos temas abordados nas disciplinas são dispensáveis e inúteis. É muito comum ouvir a seguinte colocação dos alunos: “Mas eu nunca vou usar isso na minha vida”. E é um fato. Muito do que é repassado em sala de aula não se usa fora dela. Para exemplificar, no ensino médio, um aluno terá que estudar geometria analítica em Matemática. Este é um conhecimento tão específico que interessa apenas ao aluno que for se especializar na área. Sem contar que é um conhecimento que não deveria estar na formação básica, deveria ser exclusivamente da formação superior. Um aluno que não pretende continuar seus estudos nessa área não precisa se sujeitar a esse conteúdo, pois é desnecessário.
Devido à sobrecarga de conteúdos os alunos são obrigados a decorá-los. Os alunos memorizam o que é de interesse para o momento, seja um trabalho ou uma prova específica, e depois apagam os dados de seus cérebros. É assim que funciona. É assim que o vestibular funciona. Os estabelecimentos de ensino criam métodos e mais métodos de memorização e vendem isso como se fosse a coisa mais sensata a se oferecer. É uma tática adotada principalmente no ensino médio e nos cursos pré-vestibular. Os alunos decoram músicas com palavras-chave, decoram fórmulas com palavras que possuem as iniciais das fórmulas e são levados a acreditar que isso é aprendizado, que isso é conhecimento. Não é. O vídeo abaixo exemplifica como os alunos são encorajados a decorar, não a entender:
É triste saber que a maioria das pessoas, tanto alunos, quanto seus pais e seus professores aplaudem esse tipo de aula. É uma aula cômica, não muito estressante, correto. Mas é uma aula que não acrescenta absolutamente nada. É uma agressão à capacidade intelectual dos alunos.
O curioso dessa questão das disciplinas é que, mesmo elas contendo tanta informação, ainda faltam conhecimentos a serem incluídos, conhecimentos importantíssimos e essenciais. As disciplinas já existentes devem passar por uma grande reformulação e novas disciplinas devem ser acrescentadas. O ideal é que a escola prepare os alunos para situações de vivências presentes e futuras, não para uma prova.
O que acredito que deva ser acrescentado na grade escolar: legislação, economia, política e trânsito. Todo cidadão deve ter noção do que está exposto na Constituição Federal, nos Códigos, nos Estatutos (…). Assim como deve ter entendimento, mesmo que básico, do que está envolvido com a política e a economia, como funcionam, no que se baseiam; afinal, o sistema político e econômico vigente é o sistema capitalista. E algo tão complexo quanto o trânsito não deveria se resumir a alguns dias de aulas teóricas obrigatórias para a aquisição do documento de habilitação. As crianças não podem se tornar adultos sem que saibam o mínimo destes assuntos. São assuntos que fazem parte da vida de todos, desde o nascimento até a morte. Não são temas que dependem da futura área de atuação profissional do aluno, são temas gerais. É um erro não tratá-los com a devida relevância. São assuntos que merecem destaque em qualquer programação escolar.
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Na lição de Paulo Freire: “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. Crianças precisam crescer com esse discernimento.
Quanto às disciplinas existentes, o apropriado seria se desfazer da maioria dos conteúdos descartáveis e incluir conteúdos úteis. Por exemplo, estudar nutrição e alimentação em Biologia é bastante relevante. Abordar temas que envolvem tecnologia e desenvolvimento nas aulas de Física e Química também é apropriado. É preciso despertar a curiosidade dos alunos. Não há estímulo suficiente em uma aula puramente teórica, nos moldes do quadro, giz e cópia no caderno. Disciplinas que envolvem as ciências biológicas e as ciências da natureza devem ser vistas tanto pelo viés teórico quanto pelo viés prático. Existe uma diferença enorme entre ler e ouvir sobre o movimento de revolução da Lua em torno da Terra e observar, noite após noite, com um telescópio, esse movimento. Tirar as próprias conclusões e anotar as próprias observações sobre o fenômeno é mais estimulante, é mais legal. A escola tem que proporcionar isso aos alunos.
Outras duas disciplinas, a educação física e a educação artística, devem ser mais valorizadas. Preza-se muito as disciplinas que não envolvem as capacidades físicas e artísticas. Os alunos que apresentam habilidades para os esportes, para a música, para a dança, para o teatro ou para pintura não são estimulados a aperfeiçoarem-nas. O sistema supervaloriza certas habilidades e menospreza outras. Como se existissem conhecimentos superiores a outros. Como se um aluno muito habilidoso em dança fosse inferior a um aluno muito habilidoso em Física, por exemplo. Observando-se os maiores gênios e as maiores personalidades ao longo da história, vê-se que eles estão espalhados por todas as áreas do conhecimento, não em áreas específicas.
O psicólogo Howard Gardner sugere a existência de inteligências múltiplas, rompendo com a ideia de que a inteligência é única e se apresenta igual a todos os indivíduos. As inteligências que se baseiam no trabalho de Gardner e hoje consideradas são: lógico-matemática, linguística, musical, espacial, corporal-cinestésica, intrapessoal, interpessoal e naturalista. Na imagem abaixo há uma visão geral sobre cada uma delas. Dentre as várias formas que o aluno pode demonstrar sua inteligência, a escola não deveria considerar apenas uma delas como a merecedora de desenvolvimento e aprimoramento. É visível que a escola prioriza a inteligência lógico-matemática em primeiro plano e a linguística em segundo. As demais inteligências não encontram muito espaço no ambiente escolar. Isso afeta consideravelmente os alunos que, para se adequarem ao sistema, renunciam as suas personalidades, os seus dons. É uma gigantesca injustiça o que ocorre com esses alunos. Não pode ser assim. Não deve ser assim.
inteligênciasmúltiplas
Não adianta dizer que um país precisa de educação para crescer. Não adianta dizer que a escola pública precisa melhorar. O Brasil tem uma educação vigente. O que deve ser mudado é o sistema. Tanto a escola pública quanto a escola particular agem de acordo com esse sistema. Este sim precisa ser reformado, reformulado. Sempre que voltava do colégio passava por um muro com a seguinte pichação: “Só a educação liberta esta nação”. Eu concordava com aquilo. Hoje não concordo mais. A educação como está não nos libertará nunca. De nada. Enquanto não ocorrer uma mudança, nós, alunos, não seremos vistos como cidadãos, como pessoas, continuaremos a ser vistos apenas como mais um “tijolo no muro”. A educação virou comércio, virou negócio. Quem lucra não é o aluno, são os empresários do ramo e o Estado que estima robôs, não seres pensantes. E isso é doloroso. É doloroso tomar consciência do que fazem conosco.
O pior de tudo é sair da escola, entrar na faculdade e perceber que nada mudou. “E eu achando que tinha me libertado… Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer: reinstalar o sistema” (Admirável chip novo – Pitty). Antes era vestibular e Enem, agora é OAB, Enade e concursos (sou estudante de Direito). A impressão que fica é a de que ninguém se preocupa em me formar uma profissional competente e preparada para enfrentar os reais desafios futuros. A seguinte citação de Cesar Pasold traduz o que digo:
Percebe-se que se está a conferir a capacidade do acadêmico no armazenamento literal do texto codificado. Não se busca aferir, por exemplo, a capacidade de raciocínio segundo os princípios constitucionais. Relega-se a interpretação, pois esta pode ensejar que o despachante forense tomeatitudes conscientes, críticas, que não são bem quistos dentro do sistema vigente. Evita-se a mudança de paradigmas a todo custo. A capacidade ética do futuro profissional perde razão para as potencialidades de sua memorização. Por isso, não rara a constatação de que muitos acadêmicos, com perfil ético e profissional de verdadeiros juristas, não consigam lograr êxito nos referidos Exames, posto que estão voltados a um novo paradigma jurídico”.
Esta semana tive a oportunidade, depois de uma prova oral, de desabafar tudo isso para um professor. Ele disse que não tirava minha razão, mas que ele, sendo também professor de cursinho, via que a tendência era só piorar. Agora, me diz se não é para ficar desanimada?
Tudo que querem é formar um nome na lista de aprovados. Só. Alunos não passam de números de inscrição nas milhões de provas da vida. Às vezes, a contragosto, acabo concordando com aquela frase que diz que a ignorância é uma virtude. Infelizmente.
E, para não ser injusta com aqueles que destoaram das regras impostas pela educação e compartilharam mais do que macetes comigo, fica o meu agradecimento. Obrigada aos professores que viram em mim uma pessoa, não mera ferramenta de trabalho. Valeu a pena tê-los conhecido. Se você é professor e está lendo o artigo, o pedido que fica é: preze pelos seus alunos, você tem uma responsabilidade enorme em mãos, você tem em seu convívio pessoas valiosas que esperam ser tratadas com respeito. Não somos máquinas. Nós merecemos mais consideração.

Retrato de uma juventude revolucionária




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Há 25 anos, o Brasil conhecia a sua nova Carta Magna, a Constituição da República Federativa de 1988. Bastante aclamada mundialmente, a nossa Constituição é exemplo quando se trata de garantias sociais e direitos humanos. Porém, para chegar a tal nível, os brasileiros de décadas passadas precisaram passar por um período de lutas muito intenso, precisaram derrubar uma ordem vigente e obtiveram êxito. Graças a estes brasileiros, hoje possuímos direitos fundamentais inimagináveis em um contexto de ditadura. Nossa Constituição é fruto de uma vitória popular e isso é motivo para nos orgulharmos. Gostamos tanto de nos menosprezar enquanto nação, mas não podemos deixar que momentos gloriosos como esse caiam no esquecimento ou fiquem “por baixo” de acontecimentos ruins, prejudiciais ao país. Sei que se trata de um “cabo de guerra”desleal entre acontecimentos que nos orgulham e acontecimentos que nos envergonham, mas, às vezes, nos colocando no lado otimista deste cabo, já é suficiente para reacender os sentimentos de esperança e os sentimentos de ação em relação às mudanças que queremos ver no Brasil.
Peço desculpas se o discurso soa muito romântico ou utópico, mas creio nele baseada justamente no exemplo histórico da implantação da nossa Constituição. Voltar os olhos para o passado é uma conduta que deve ser constante, pois, a partir dela, somos capazes de ponderar os fatos para não cometermos os mesmos erros ou para nos inspirarmos nos acertos. “Um povo que não conhece a própria história está condenado a repeti-la” e, observando a história pré-Constituição de 1988, acredito que a maioria esteja de acordo que não seria adequado, muito menos lógico, repetir o que ocorreu.

“Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”

- George Santayana
Por isso convido-lhe a assistir ao filme O que é isso, companheiro?, que se passa no período da ditadura militar, anterior ao período democrático que presenciamos. O filme foi baseado em livro homônimo, lançado em 1979, escrito por Fernando Gabeira, que também participou da luta armada contra a ditadura quando jovem. A direção do filme é de Bruno Barreto e a produção é de Luiz Carlos Barreto. O filme é de 1997 e, em suma, conta a história de um movimento de estudantes, o MR-8, que executou um astuto plano para resgatar alguns prisioneiros políticos.
Confira e, logo após, veja as minhas ponderações:

O filme se inicia com uma das maiores conquistas espaciais, o pouso do homem na Lua, que ocorreu em 1969 e foi televisionado por todo o mundo. A partir desse fato começamos a entender o posicionamento ideológico dos personagens. A corrida espacial fez parte de um marco divisório na história da humanidade, onde ou se estava do lado dos Estados Unidos ou do lado da União Soviética e, ao escolher um destes lados, ganhava-se de “brinde” um sistema econômico e uma ideologia política determinados. Enquanto os EUA estavam com o capitalismo e a direita, a URSS estava com o socialismo e a esquerda.
No filme percebe-se que quem era contra a ditadura militar, comemorava os feitos da URSS e condenava as conquistas estadunidenses. Afinal, a ditadura militar era direitista. Paulo festejou o lançamento do Sputnik, o “lançamento” da cadela Laika ao espaço e a volta orbital de Iuri Gagarin. César também demonstra criticidade ao falar dos EUA, fazendo referência ao seu passado de colonização e à dizimação dos índios neste período. Interessante notar que a maioria dos“primeiros espaciais” (primeiro satélite artificial, primeiro ser vivo a orbitar a Terra, primeiro ser humano a orbitar a Terra…) foram concebidos pela URSS e, como os EUA não podiam estar em desvantagem na corrida espacial, apelaram e mandaram os primeiros seres humanos à Lua. Embora todos estes feitos representem avanços tecnológicos e científicos, o que sempre esteve por trás de todas as conquistas foi o fator político, o qual o filme aborda durante o diálogo na festa de comemoração ao embaixador dos EUA no Brasil.
O trio de amigos que nos é apresentado logo se desfaz por conta da decisão de dois deles, Fernando e César, de se aderirem à luta armada. A imprensa havia sido censurada e a extrema direita tinha tomado o poder. Diante do cenário aterrador, eles decidiram não ficar inertes, o que seria o início de novas vidas para ambos. Se dispuseram a doar suas vidas por um ideal. Já Artur optou por não seguir os amigos. “Cruzar os braços e silêncio?” foi a pergunta que Fernando fez à Artur e foi assim que ele agiu.
Para iniciar a luta, César e Fernando se candidataram a entrar no Movimento Revolucionário 8 de Outubro. Para entrar no grupo era necessário passar por uma espécie de ritual de aceitação. No grupo ninguém poderia se conhecer anteriormente e, por segurança, teriam os nomes trocados. Durante o recrutamento, foram mencionados Lenin e Trotsky, pessoas admiradas pelo grupo e que serviram de inspiração para a troca de nomes, além de Stalin, mencionado por César. Por curiosidade pesquisei seus nomes verdadeiros e são eles, respectivamente: Vladimir, Lev e Ióssif. Acho que me convenci dessa tática… Os nomes escolhidos “soam” muito melhor que os nomes originais, para mim.
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Durante a apresentação de Maria, Fernando é perspicaz ao ver seu rosto no espelho, quebrando a primeira regra estabelecida, a de não olharem para Maria até que lhes fosse permitido. Seria este um candidato sem potencial? Maria revela a verdade sobre a luta armada: alguns dos membros do MR-8 já morreram, outros sofreram severas torturas… Será que quem quer entrar para o grupo está disposto a ter este mesmo destino? Será que suas próprias vidas valem o ideal que defendem? Para aqueles jovem sim, valiam.
Após serem aceitos, começaram as aulas de tiros. “Só militares podem combater militares”, por isso se prepararam como tais, aprendendo sobre o que mais caracteriza a classe e a sua luta: as armas. Júlio, Renê e César vão bem nas aulas. Fernando é o pior aluno. Um dos primeiros momentos de reflexão que o filme traz é quando Maria “aconselha” César: “Uma coisa é atirar num alvo, outra coisa é atirar num homem. Pensa nisso” e ele pensa.
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Depois de muito treino, iniciaram suas ações. Utilizam-se de um assalto para promover o movimento em forma de discurso e, é óbvio, roubar o dinheiro para financiar outros atos. Nesta cena percebe-se que os jovens, apesar da coragem que demonstram, estão muito apreensivos e nervosos. Na fuga, César é atingido por não ter conseguido atirar em um guarda. O conselho anterior de Maria fez todo o sentido; César pode ter pensando em atirar em um homem, mas não o fez. Ele foi deixado para trás (os fracos ficam para trás? “Fracos”?) e foi levado pela polícia.
O interrogatório se iniciou. Na verdade, “interrogatório” é eufemismo. “Tortura” é a palavra mais apropriada. A tortura pode ser o meio de prova, mas prevalece sobre o meio de investigação, nesse caso. O interessante de se observar é que os policiais torturam como se estivessem fazendo um serviço banal, exercendo uma função trivial. Conversam como se ali não tivesse uma pessoa em estado de extremo sofrimento, conversam sobre o que fazer depois do trabalho, sem demonstrar empatia pelo torturado. “Ferido, resistência baixa, não quero acidente de trabalho”: o prisioneiro não está ali enquanto ser humano, está como ferramenta de trabalho nas mãos do policial. Reduzir o ser humano a objeto é algo dos mais difíceis de ser entendido por mim. Porém, voltando ao César, seria fraqueza delatar os companheiros em prol da própria vida ou seria uma atitude sensata? Ao contar sobre tudo, César está aflito, angustiado. Além do sofrimento físico, há o sofrimento emocional. Ao mesmo tempo que ele não quer fazer isso, o faz porque a tortura foi mais forte que ele, a dor o venceu.
Com o assalto ao banco, o grupo obteve dinheiro, o que eles necessitavam. Tinham o dinheiro e precisavam chamar a atenção. E é aí que Fernando propõe uma ideia, a qual vai de acordo com o que ele desejava desde o começo: desfazer a censura à imprensa. Sequestrar o embaixador dos EUA era uma ideia original, não esperada pelos inimigos, que despertaria a atenção da mídia e que seria a oportunidade perfeita de libertar outros companheiros; logo, tinha tudo para dar certo. A troca de um refém pelo outro é uma tática usada até hoje quando se trata de guerras e guerrilhas.
A partir daí o plano começa a ser realizado: Renê, a menos suspeita, fica encarregada de descobrir informações sobre o cotidiano do embaixador. Seduzir o chefe da segurança do embaixador era uma ótima forma de se conseguir isso. Para ser revolucionário é preciso também dissimular. E ela obteve sucesso: saber que o embaixador não anda com seguranças e que o seu carro não é identificado com a bandeira dos Estados Unidos foi de crucial importância na execução do plano, como vê-se logo mais.
Cartaz da Ação Libertadora Nacional com Carlos Marighella a esquerda.
Cartaz da Ação Libertadora Nacional com Carlos Marighella a esquerda.
Toledo e Jonas são convidados para a missão, membros daAção Libertadora Nacional, eles são veteranos revolucionários, o primeiro participou da Guerra Civil Espanhola e o segundo é um ícone nos movimento de São Paulo. Mais capacitados que eles, impossível. Ao tomar a liderança do grupo, Jonas diz em quais parâmetros a equipe deve se pautar – união, coesão e disciplina – e reafirma a fé cega que os membros devem manter dentro do grupo. Esta é a mesma postura seguida pelos “criados” no militarismo e seus apoiadores, certo? E para combater militares é necessário agir como um, como mencionado anteriormente; entretanto, seria este o caminho mais eficaz e coerente para se atingir o intendo? Não seria estar trocando seis por meia dúzia? Não cheguei a uma conclusão sobre isto…
Jonas demonstra dúvidas em relação ao movimento, argumentando o quão jovens e idealizadores eles são, mas Toledo reconhece que eles tiveram conquistas consideráveis e que o plano é bom. Duvidar da juventude pode ser o mais tentador, mas talvez não seja a melhor opção. Temos que analisar os contextos histórico e social. Será que podemos dizer o mesmo da juventude atual? Eu fico dividida, às vezes penso que sim, em outras penso que não, mas meu lado otimista, neste caso, parece falar mais alto com o tempo e com o desenrolar de alguns acontecimentos no país. Presenciamos um ano histórico, o de 2013, onde mesmo que pareça que o gigante tenha voltado a adormecer, ele se manteve acordado por algum tempo e isso foi muito valioso.
A apreensão do embaixador é uma das melhores cenas do filme, pra mim, pois traz os dois lados da história: o dos que querem acabar com a ditadura e o dos que a apoia. O esquema estava armado e o grupo estava disposto a conseguir seu objetivo, mas tinha alguém lhe observando pela janela… Quando a senhora ao telefone diz “atitude suspeita” ao policial dá-se a entender que parte da população estava muito atenta às ações ao seu redor que pudessem representar risco ao sistema vigente. Outro fato nesta cena que é intrigante: o fato do segurança do embaixador não ter chegado e ele ter saído assim mesmo pode ser encarado como uma “conspiração do destino” a favor dos revolucionários ou apenas a confirmação da informação que Renê obteve anteriormente? Perdão aos mais céticos e que vão achar esta análise absurda e digna de risadas, mas é algo que o filme traz e não deu pra passar despercebido.
“Quantos de nós teve o prazer de ter vencido o sistema, mesmo que momentaneamente, como o grupo de jovens retratado no filme?”
Quando o embaixador é levado para a casa, o entusiasmo de Fernando ao ver tudo tinha corrido como o planejado meio que me emocionou. Ao assistir foi como se estivesse no lugar dele, com aquela sensação de “acertei!”, “consegui!”, que, aliás, aparece novamente logo depois, na que considero a melhor cena do filme.  Em uma palestra referente ao filme, uma professora questionou a plateia e a sua pergunta ecoa até hoje nos meus pensamentos. Vou repassá-la da forma que me recordo, não está na íntegra, mas é nesse sentido:“Quantos de nós teve o prazer de ter vencido o sistema, mesmo que momentaneamente, como o grupo de jovens retratado no filme?”. A comemoração daquele pequeno grupo pessoas por ter conseguido ter seu manifesto lido para o país inteiro é formidável. Quantos de nós compartilham da mesma satisfação, do mesmo sentimento de “dever cumprido”, de vitória? Creio que são poucos dos que leem este artigo que respondem afirmativamente. A minha resposta é negativa, eu (ainda?) não tive esse prazer. Gostaria de ter? É claro! Como? Este último questionamento vem agarrado ao da professora quando reflito sobre tudo isso. E você, me diga, já teve esse contentamento de triunfar sob o sistema? Conte-me nos comentários, por favor.
A cena seguinte também me faz refletir bastante… Quando a esposa de Henrique, um dos policiais encarregados do interrogatório torturante, descobre a real função do marido, fica arrasada e não é para menos. A lavagem cerebral que o militarismo faz na cabeça de quem o serve é algo espantoso. O que leva uma pessoa a aceitar que tortura é meio de trabalho? Henrique ainda tenta se defender: “Você pensa que eu faço isso por quê? Por que me dá prazer? Por que eu quero essa ‘glória’ no meu currículo?”, mas não convence. Quem se convenceria? Porém, no fim, ele nos induz a pensar o seguinte: ele vê que algo está errado, ele enxerga que não é uma atitude justa (“É uma grande hipocrisia que funciona e como funciona!”), mas também vê algo que a legitima, está convicto de que a ditadura deve prevalecer no poder.
Voltando ao grupo, Fernando finalmente é reconhecido por algo que sabe fazer bem: escrever. “Mais ajuda quem não atrapalha”, tem esse ditado, no entanto, acredito que qualidades são inerentes a qualquer pessoa e que basta enxergá-las para que, no âmbito coletivo, todos se beneficiem. Foi assim com o MR-8, foi assim com a polícia da ditadura… É assim para quem se propõe a trabalhar em grupo e consegue admitir que sem o outro, por mais “inútil” que ele possa parecer, as coisas não andariam tão bem quanto como andam na sua presença.
O título do filme, “O que é isso, companheiro?”, é compreendido com o beijo que Fernando rouba de Maria. Quem diria que o companheiro mais “tapado” do grupo poderia conquistar o coração da companheira mais engajada, mais ativa e mais bem preparada? A vida tem dessas coisas… Aquele que menos se espera é o que provavelmente mais vai surpreender.
Ao comprar as pizzas, Fernando encontra seu antigo amigo Artur e uma frase que me chamou bastante a atenção foi essa: “Mais próximo da realidade do que você”, respondendo à pergunta de Fernando sobre como ele estava. Esta é uma frase que os sonhadores escutam a todo momento. Ela é verdadeira ou não? É uma questão de se avaliar o caso concreto, contudo, no período da ditadura, naquele contexto, tendia mais para o “sim” ou para o “não”? Quem assistia de longe diria que sim, ela é verídica, mas quem vivenciava a luta diria que não, que ela não passa de deboche daqueles que não fazem nada para mudar a realidade… Os sonhadores gostariam de escrever a história do país com um futuro muito diferente do seu presente. O que você diria sobre isto na atualidade, que os que almejam mudanças estão longe da realidade ou não?
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Yuri Gagarian, primeiro homem no espaço, da URSS.
No caminho de volta para a casa, ao conversar com o taxista, este último diz, fazendo alusão aos grupos revolucionários: “Esses caras são demais! Eles e os cosmonautas!”. Fazendo referência ao dito no início, sobre a corrida espacial, pode-se traçar um paralelo entre as conquistas espaciais soviéticas e a conquista do sequestro do embaixador. Fernando conseguiu, mais uma vez, o reconhecimento, seu feito foi colocado no mesmo patamar dos feitos que ele comemorou outrora, o que o deixou muito feliz e realizado.
O tratamento dado ao embaixador no decorrer do cárcere me surpreendeu de forma positiva. De início pensei que ele receberia uma péssima estadia e fosse até torturado, mas não, não aconteceu nada disso. O ferimento de sua cabeça era cuidado dia a dia, ele recebia roupas limpas, conversava com os membros do grupo, escreveu cartas à sua esposa (como prova de que estava vivo, mas não deixo de considerar como uma “gentileza”), foi alimentado… Durante o primeiro interrogatório foram mais duros com ele, mas algo foi sensato: não estavam dispostos a torturar o embaixador para obter respostas. Por mais que o grupo tentasse igualar sua postura à dos militares, não se rebaixaram a cometer esta atrocidade. Caso o fizesse, seria um ponto a negativar tudo que foi conquistado até então. E um fato que o grupo não esperava e foi uma boa surpresa: o embaixador era contra a ditadura assim como eles.
A denúncia que um padeiro fez à polícia foi essencial para a localização da casa onde o grupo estava instalado. Mais uma vez, parte da população agiu em prol da ditadura, evidenciando o contrapeso em relação aos revolucionários. A polícia também pondera a exigência feita: libertar os prisioneiros políticos ou deixar que o embaixador dos EUA morra? O que seria melhor para a imagem política do Brasil?
Na conversa entre Jonas e Júlio, tenho que concordar com algo que Jonas disse: “A sua posição deve ser sempre a sua posição”. Mesmo que a maioria seja contra o seu posicionamento, se está convicto do que pensa, não deve se render por conta da quantidade. É estar sendo desonesto consigo mesmo e esta é a maior traição que se pode receber: trair-se a si mesmo… Logo mais, eles falam sobre quem atirará no embaixador caso não libertem os prisioneiros políticos. Jonas escolheu Fernando para testar a sua fidelidade. Uma escolha comedida se analisarmos friamente o contexto do grupo. Fernando provaria de uma vez por todas a sua “determinação revolucionária” ou a falta dela.
Em uma das cartas enviadas a Elvira, a esposa do embaixador, este demonstra empatia pelos jovens, busca compreendê-los, um a um. Entretanto, tem uma visão semelhante à de Henrique: se tratavam de crianças manipuladas por adultos monstruosos. Não acho que deva-se reduzir os jovens do grupo a meras marionetes. Agiam por forte emoção, é claro, mas uma emoção motivada por ideais pessoais, não uma emoção “manobrada” por mentes doentias superiores. Porém, mesmo discordando desta sua visão, considero a compaixão demonstrada como oportuna, pois desvalida a ideia de terrorismo também muito propagada. Não estavam ali causando mal a ele gratuitamente, ele tentava entender o interior de cada um e o que os levou a tomar aquelas atitudes.
O embaixador e Fernando criam uma espécie de “laço afetivo”, pois conversavam bastante. Fernando analisava as respostas do embaixador a fim de também entende-lo. Ambos gostariam de saber o que se passava na mente alheia, era recíproco, por isso o “laço” mencionado. O “companheirismo” entre eles é interessante: mesmo que Fernando esteja disposto a mata-lo, também está disposto a ajuda-lo a ir ao banheiro e a manter segredo sobre o ocorrido. Fernando não quer machuca-lo, mas, pelo grupo, terá que se decidir caso venha a necessitar fazer isso. Imagino a confusão mental que o acometeu durante todo esse período.
A polícia descobriu a casa onde o grupo estava e passou a investiga-lo pessoalmente. O esquema para quando a polícia chegasse foi planejado rapidamente e a atenção foi redobrada. A polícia possuía um esquema alternativo à proposta dos revolucionários, não estavam dispostos a ceder. Diante da possibilidade do plano inicial não dar certo, Fernando enfim “descobre” (entre aspas, pois foi um sorteio forjado) que ficará a cargo de executar o embaixador caso os prisioneiros políticos não sejam libertados. Fernando se viu, naquele momento, entre a sua vida e a vida do embaixador, um momento muito duro para ele.
Na conversa entre Maria e Fernando, ela o questiona: “Você pensou que a gente fosse chegar nisso?”. Mesmo que pondere-se todas as possibilidades, sempre esperamos que ocorra como o previsto, como o que acreditamos primordialmente. É inevitável. No entanto, quando somos colocados frente a frente com a eventualidade que não queríamos, tudo se torna assustador. Os membros do grupo estavam assustados. O embaixador estava assustado e acredito que os policiais também. Nessas horas a morte é a que aparece nos pensamentos mais desesperadores e é aí que percebemos que, por mais sentido que damos às nossas vidas, no fim das contas, pode ser que não tenha valido de nada. Maria diz outra frase importante: “Às vezes eu sonho que estou presa e tenho um alívio tão grande”. Ou seja, para ela, até o que mais teme em vida, que é ser pega pelos militares, seria melhor que a morte. E mais: imagino que a vida revolucionária escolhida por ela tenha se tornado um fardo enorme apesar de ser fiel à sua ideologia. Ao confessarem ambos os seus verdadeiros nomes, estavam realmente aceitando que tudo fosse dar errado, pois o segredo foi revelado.
O diálogo entre os policiais Henrique e Brandão é interessante. Brandão conta sobre o casamento de um sargento com uma das torturadas por eles. “Peçanha pegou o vício pela tortura, acabou encontrando o prazer que nunca teve no trabalho burocrático”: Henrique provavelmente estava mencionando os estupros cometidos contra as mulheres presas. Depois pergunta se o colega de profissão consegue dormir direito e recebe uma resposta afirmativa, mas a dele próprio é negativa. Sua sensibilidade surgiu finalmente ou ela estava adormecida e despertou? Prefiro ficar com a segunda opção.
A cena que se segue também é uma das minhas favoritas. Deu dez horas da noite e Fernando se levanta para assassinar o embaixador, mas antes se volta para a porta esperando por algo que o faça parar e esse algo acontece: é a notícia esperada, os quinze prisioneiros serão libertos. Ele e o seu grupo saíram vitoriosos, por fim.
No dia 7 de setembro, comemoração da independência brasileira, o MR-8 também festejou. Pela TV a foto dos prisioneiros resgatados e enviados ao México foi mostrada e César apareceu em destaque. Venceram o sistema integralmente! Quase foram frustrados pelos policiais que estavam decididos a prende-los, mas, por estarem com o embaixador ainda, o plano não vingou.
Depois do término de um jogo entre Vasco e Flamengo com o Maracanã lotado, Jonas teve a inteligente ideia de “despachar” o embaixador ali, em meio a tantos civis empolgados, onde poderiam se dispersar e não serem pegos pela polícia. Uma ótima sacada. O embaixador também foi liberto, retornando à sua amada Elvira.
Um mês depois, Fernando e Maria se reencontraram e lamentaram o fato do grupo ter se desfeito. O sonho deles havia acabado? Venceram o sistema uma vez, mas este foi mais forte? Venceram uma batalha, mas não a guerra? O sistema iria triunfar diante de todos os seus esforços? A dor de Maria dizia que sim.
Mesmo com a libertação do embaixador, a polícia continuou as investigações e procurou pelos membros do grupo a fim de captura-los. Por conta do vacilo de Maria com os recortes do jornal, foram descobertos mais uma vez e a polícia os apanhou. A tortura chegou até eles.
Oito meses depois, outro embaixador foi sequestrado, o alemão. Dessa vez o MR-8 fazia parte dos prisioneiros e eles é quem seriam libertados e enviados para a Argélia, eles quem estariam na foto. De todos os membros, a tortura castigou mais Maria, que terminou em uma cadeira de rodas. Um triste fim para quem batalhou e acreditou sem cessar por uma causa em prol de muitos, em prol de uma nação inteira.
Apesar do filme tratar de um assunto sério e ter em sua maior parte cenas dramáticas, ele consegue nos arrancar alguns sorrisos no início da trama: “A companheira pode atirar muito bem, mas comer a sua comida é provar a verdadeira coragem revolucionária”, “Ou ela tá querendo me foder, ou ela tá querendo foder comigo”, mostrando que ali estavam pessoas que, além de sonhadoras, ainda mantinham a sua essência juvenil e conseguiam fazer humor e sorrir diante das dificuldades. O jovem carrega em si um misto de responsabilidade e devaneios, o que o faz um ser único. É ele o maior percussor de mudanças sociais porque, ao mesmo tempo que presente o perigo, é destemido, está disposto a enfrentar as barreiras que querem impedi-lo de obter suas glórias. É um ser diferenciado dos demais.
Agora, pensando em nosso atual contexto político, observe o caput do artigo primeiro da Constituição Federal:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
Para que ali esteja escrito “Estado Democrático de Direito” foi preciso que muitos fizessem como os jovens do filme fizeram. Foi preciso muita luta. É algo que merece a nossa reflexão. Quantos não morreram ou ficaram debilitados para que hoje gozássemos do sistema democrático que possuímos, das liberdades que nos são garantidas? Não digo que o país esteja perfeito, não é isso, mas, comparando-o ao que era, estamos bem melhor, não acha? Eu acho.
Agora, tente se colocar no lugar de um revolucionário, uma vida à base de estresse e nervosismo, uma vida nas “sombras”, uma vida onde a morte e o sofrimento são vizinhos que podem bater à sua porta a qualquer momento. Porém, é uma vida em que o amor à sua causa supera todos os contras pelo caminho e a certeza de que você mudará uma realidade é constante. Você escolheria uma vida dessas? Escolheria lutar por um futuro melhor para pessoas que nunca virá a conhecer?
Bom… Trouxe neste artigo muitos questionamentos e espero que tenha-o feito refletir sobre eles. Considero este filme inspirador e um bom exemplo do combate à ditadura. O que achou dele? O que achou das perguntas elaboradas a partir dele? Comente!